Quem nunca ouviu falar na terra da cebola, nos papa-cebolas ou ceboleiros? A expressão “papa-cebola” era bastante utilizada e difundida em todo Estado de Sergipe e além-fronteiras no começo do século passado. Praticamente servia de sinônimo de todos aqueles que nasciam ou moravam na nossa cidade, porém com o tempo a palavra entrou em desuso e acabou paulatinamente substituída pelo termo ceboleiro.
A expressão papa-cebola, ao que tudo indica, remota os tempos imperiais. Na segunda metade do século XIX, as principais feiras de Sergipe estavam concentradas na região do Cotinguiba. Os itabaianenses comercializavam nas ricas regiões dos canaviais por não ter aqui um centro comercial estruturado. Os nossos antepassados eram comerciantes natos que abasteciam as outras vilas e cidades de Sergipe e da Bahia com seus produtos. Homens rudes intelectualmente pela falta de instrução pública, mas espertos e aventureiros, vocacionados ao comércio errante. Não havia, como atualmente, uma só feira em Sergipe que não tivesse a presença itabaianense. A histórica e cultural cidade de Laranjeiras chamava atenção na segunda metade do século XIX pela pujança econômica e cultural. A feira de Laranjeiras, pela proximidade e importância, era para onde afluíam caravanas de itabaianenses. Estes dominavam o importante centro comercial da região do Cotinguiba de tal forma que eram hostilizados pelos habitantes locais. A histórica cidade era berço da intelectualidade sergipana, terra de João Ribeiro e de refinada elite açucocrata. As férteis terras margeadas pelo Cotinguiba se destinavam à plantação de cana para exportação. Nos sítios serranos eram plantados os gêneros de primeira necessidade que abasteciam o comércio interno sergipano, daí o rótulo de cidade celeiro de Sergipe.
O estratagema utilizado pelos laranjeirenses para ferir o orgulho dos itabaianenses foi denominá-los de papa-cebolas. Por que papa-cebolas? Itabaiana tinha uma produção razoável da verdura acre de cheiro forte nas férteis encostas serranas. Mas o motivo principal não estava relacionado com a produção de cebolas. Chamando os itabaianense de papa-cebolas era o mesmo que dizer que eram fedorentos a cebola. E mais: de somíticos, pois mesmo conseguindo volumas somas com a venda de gêneros alimentícios e outros produtos, os itabaianenses substituíam a carne (mais cara) por uma farinha acebolada produzida por suas esposas. O cheiro de cebola era perceptível de longe. Bastava um itabaianense colocar sua marmita para se ouvir os gritos pelas estreitas e tortuosas ruas de Laranjeiras: “papa-cebola, papa-cebola, papa-cebola!!!”.
Portanto, papa-cebola era de início um termo bastante pejorativo. A expressão não foi bem aceita. As chacotas, às vezes, acabavam em revide de ofensas, brigas ou em episódios mais trágicos. As novas gerações de papa-cebolas não entendiam a origem jocosa e o primitivo significado da alcunha; pensavam que era por serem trabalhadores e terem abundantes cebolais. No século passado é cunhado o texto ceboleiro, sobre o qual comentaremos amanhã.
Referências Bibliográficas
CARVALHO, Vladimir Souza. Apelidos em Itabaiana. Curitiba: Juruá, 1996;
DÉDA, José de Carvalho. Brefáias e burundangas do folclore sergipano. Aracaju, Livraria Regina, 1967. P. 83-84;
OLIVEIRA, Pe. Philadelpho Jhonatas de. Registro de fatos históricos de Laranjeiras. Aracaju: Avila, 1942.
SEBRÃO SOBRINHO. Cordial política da plutocrata terra papa-cebola. Sergipe-Jornal, Aracaju/SE, 26 jan. 1944, p.1.
ILUSTRAÇÃO. Foto Verdureiro, da série "Ambulantes", de Marc Ferrez (1843-1923). Foto produzida em 1895. Acesso: Memória Viva - www.memoriaviva.com.br. Arquivo JPG. Dimensões: 1158 X 1152 pixels. Resolução 72 dpi. Tamanho 113 KB.
Clique aqui para ouvir essa matéria