domingo, 2 de outubro de 2011

Itabaiana, a terra dos ceboleiros

Acreditamos que o termo ceboleiros é posterior a designação papa-cebola, conforme vimos em texto anterior. A utilização da expressão ceboleiros é bem provável que tenha sido iniciada na segunda metade do século passado, para servir de sinônimo do termo anterior que entrou em desuso ou, não é razoável supor, o fato de a expressão papa-cebola ser ofensiva contribuiu para sua substituição paulatina pelo seu termo mais corrente nos dias atuais, restando apenas a antiga expressão na memória dos mais idosos. Seja como for, as alcunhas coletivas papa-cebola e/ou ceboleiro eram tão pejorativas que muitos rapazes naturais de Itabaiana não conseguiam namorar com moças de famílias tradicionais de Aracaju e outras cidades de Sergipe, pois os pais davam sempre o conselho às filhas para não quererem itabaianenses, ou seja, os fedorentos a cebolas e tabaréus. Hoje, é até uma honra ter um genro ceboleiro, principalmente se for rico ou “cabra macho” trabalhador.

Nas últimas décadas, a palavra ceboleiro ganhou força dentro e fora de Itabaiana de modo inimaginável. A expressão ceboleiro foi tão integrada ao itabaianense que praticamente se tornou sinônimo de todos aqueles que nascem ou moram em Itabaiana. Se no passado seu uso era uma forma pejorativa, no presente a função é outra: tornou-se um elogio, uma forma de identificação dos itabaianenses, um patrimônio cultural. Contribuiu decisivamente para o fortalecimento da alcunha de terra da cebola a construção do Mercado de Hortifrutigranjeiros, nosso famoso Mercadão, em 1989. Nesse grande empório comercializam-se volumosas quantidades de cebolas produzidas em Itabaiana e, principalmente, provenientes de outros estados. Verdadeiras montanhas de cebolas são vistas todos os dias, dando um perfume especial à feira local.

O apelido adentrou de tal forma o imaginário social itabaianense que o mascote da Associação Olímpica de Itabaiana, principal clube de futebol da cidade e um dos mais tradicionais do Estado de Sergipe, é uma cebola vestida com o uniforme tricolorido de azul, vermelho e branco. Até mesmo o universo acadêmico sofreu a ação do cebolismo social. O Campus Universitário “Prof. Alberto Carvalho” (UFS) tem como mascote, escolhido em votação, uma cebola – o cebolufs. 
 
Portanto, a palavra ceboleiro, usada no contexto de identificação do itabaianense, é um patrimônio cultural imaterial sergipano por ser uma expressão cultural que gera identidade e continuidade para a comunidade itabaianense e sergipana. Sergipe é um estado rico em apelidos coletivos. Nós, os ceboleiros, não somos caso único. Os lagartense receberam a pejorativa designação de papa-jaca, os simão-dienses de capa-bodes, os porto-folhenses de buraqueiros, os campo-britenses de lobisomens (ou labisomis) e etc. Era a rivalidade local que produzia esses apelidos coletivos que atualmente compõe uma rica e pouco estudada herança patrimonial. Todas essas expressões populares integram o patrimônio cultural sergipano e provam que a cultura sergipana também é rica fora do eixo litorâneo (Aracaju-Laranjeiras-São Cristóvão).





Ilustração: Mascote da Associação Olímpica de Itabaiana. Disponível em:  http://forum.outerspace.terra.com.br/showthread.php?p=5069849. Acesso em: 02/10/2011. JPG - Altura: 363 pixels. Largura 492 pixels. 41,6kb. Formato JPEG.


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